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Cultura de doação no Brasil e a Covid-19. Quais aprendizados e conquistas podemos ter com a pandemia?

Cultura de doação no Brasil e a Covid-19. Quais aprendizados e conquistas podemos ter com a pandemia?

Texto por Daniele Apone e Barbara Panseri, irmãs, nascidas e criadas por mãe solo na periferia da Zona Leste de São Paulo. Juntas, somam 25 anos de experiência neste tema. Hoje (05/05/2020) foi instituído o Dia de Doar Agora, #GivingTuesdayNow, nova data global de doações. A campanha foi antecipada de dezembro para maio, em razão da crise e da mobilização causadas pela pandemia do novo coronavírus em todo o mundo. O maior sentimento de alegria e esperança desde que a pandemia foi declarada vem do movimento de solidariedade que se espalhou pelo Brasil desde então. Arrecadação e distribuição de cestas básicas, álcool em gel e máscaras, centenas de campanhas e vaquinhas têm circulado pela internet e transferido recursos financeiros daqueles que podem doar para os mais vulneráveis do nosso país. Não é tarefa fácil mensurar o quanto o brasileiro tem doado nos últimos meses, justamente por termos ainda uma cultura cristã-evangélica arraigada, segundo a qual “o que a mão direita faz a esquerda não precisa ficar sabendo”. Segundo a Pesquisa Doação Brasil, 87% da população acha que se deve doar, mas não se deve falar para ninguém que doa. Em outras palavras, o brasileiro não gosta de contar o quanto doa, para quem doa e por que doa. Apesar dessa cultura, a pandemia tem nos mostrado o poder da doação e a vontade das pessoas em ajudar. Até o momento, estima-se que mais de R$ 4 bilhões já foram doados para combater a Covid-19, entre doações de pessoas físicas e jurídicas. As pessoas físicas do Brasil mais privilegiadas estão dando um show de solidariedade e mobilizando-se na tentativa de amenizar as dores daqueles que mais sofrem com o contexto atual. As empresas, pessoas jurídicas nacionais e internacionais, também atingiram seu recorde de doação nesta crise global. Estima-se que o investimento social privado realizado apenas no mês de abril equivale ao total doado no último ano inteiro pelo setor. Apenas o Itaú, maior doador privado até o momento, anunciou a doação de R$ 1,25 bilhão de reais, sendo R$ 1 bilhão em aporte à Fundação Itaú Social. Esse valor corresponde a 4,7% do lucro líquido de R$ 26,258 bilhões anunciado em 2019. Temos muito que celebrar neste momento, mas podemos aproveitar esse clima de solidariedade tão contagiante que paira pelos ares para irmos além e pressionar para que nosso Congresso aprove mudanças legislativas importantes, como a taxação de grandes heranças (que tende a incentivar o aumento do orçamento destinado às fundações e institutos empresariais). Enquanto isso não acontece, podemos pressionar para tornar maior a cultura de doação no Brasil, reduzindo as desigualdades que envenenam nosso país desde que os portugueses aqui chegaram há 520 anos. Pessoas físicas e jurídicas podem transferir seus recursos de forma voluntária como caminho para nos tornarmos um país desenvolvido, de modo que de uma vez por todas entendamos que não existe empresa sadia em uma sociedade doente e que “é impossível ser feliz sozinho”. Felizmente, sabemos que a grande maioria dos nossos amigos e conhecidos estão doando, mas não temos amigos milionários, muito menos bilionários. É muito desafiador ter acesso às doações dos 206 bilionários brasileiros. Dos 10 mais ricos do Brasil, não há nenhuma mulher e não sabemos quanto de suas fortunas eles destinam a doações para institutos ou fundações. Por exemplo, o 1º colocado da lista, Jorge Paulo Lemann, tem uma fortuna declarada de R$ 104,7 bilhões de reais. Ele é copatrocinador da Fundação Lemann, da Fundação Estudar e do Instituto Tênis e estima-se que doe por ano aproximadamente 4% de sua fortuna. Lemann ainda criou o fundo Gera Venture Capital, com R$ 1 bilhão para investir em educação. Já o 2º colocado da lista, Joseph Safra, possui uma fortuna estimada em R$ 95 bilhões e não divulga nada sobre doações. Sua empresa, o Banco Safra, tampouco possui qualquer menção a um possível investimento social privado. A instituição financeira desembolsou R$ 30 milhões ao longo do mês de abril como ajuda para combater o coronavírus no Brasil, com recursos direcionados a estabelecimentos de saúde filantrópicos e Santas Casas. Vale reforçar que no Brasil a transferência de recursos para projetos de interesse público é voluntária e não obrigatória. Já na Índia, é obrigatória a transferência de 2% do lucro das empresas para ações filantrópicas. No Brasil, a média percentual de doações voluntárias registrada nos últimos 12 anos é de apenas 0,95% do lucro bruto. Nos EUA – o líder no ranking de filantropia organizado pela CAF (Charities Aid Foundation) –, os incentivos para doação são mais amplos e abrangentes do que no Brasil. Lá, em 2018, US$ 427,71 bilhões foram doados às causas sociais, valor muito acima dos R$ 3,25 bilhões doados no Brasil no mesmo ano. A tradição filantrópica estadunidense vem desde meados do século 19, com volumosas doações de grandes empresários. No século 21, o mais conhecido filantropo é o bilionário Bill Gates, fundador da Microsoft. A cultura da filantropia lá está ligada a incentivos fiscais para quem doa. Na lei do país, fazer ações filantrópicas pode levar a abatimentos de até 50% do valor total pago no imposto de renda da pessoa física. No Brasil, o teto é de 6% – dinheiro que é destinado à captação de recursos via leis de incentivos fiscais. Outra diferença aparece nos pesados tributos sobre a herança em território americano, que incentivam os bilionários a manter o dinheiro em fundações filantrópicas e não em suas contas bancárias. Para os chineses, crise é sinônimo de oportunidade e, como diz nosso dito popular, há males que vêm para o bem. Nesse sentido, como podemos incentivar a cultura de doação no Brasil? Deve ser mantida de forma voluntária? Devemos taxar as grandes heranças? Tornar o investimento social privado obrigatório? Pressionar as empresas a investirem mais em projetos de interesse público? Convencer nossos familiares e amigos a doar pelo menos um percentual dos seus rendimentos para os que mais precisam? Se a classe média brasileira dedicasse apenas 0,5% de seus gastos a atividades de filantropia, isso geraria US$ 6

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Já conhece o Gaia Education?

Já conhece o Gaia Education?

Gaia Education é uma experiência transformadora, seu programa inovador de educação oferece um campo de aprendizagem que nos impulsiona a ir além da sustentabilidade, rumo a cultura humana regenerativa. Com uma perspectiva sistêmica que se utiliza da reflexão teórica aliada a experiência prática, cria condições ao desenvolvimento das habilidades necessárias para que seus alunos se tornem agentes de transição em seus projetos, organizações, comunidades ou biorregião. Seu inovador currículo está organizado como uma mandala holística, baseada em 4 dimensões de desenvolvimento humano – Social, Econômica, Ecológica e Visão de Mundo. Presente em mais de 50 países, desde o seu lançamento em 2005, e alinhada, hoje, com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS das Nações Unidas, passa aos estudantes de todas as idades e origens culturais conhecimentos e habilidades para criar uma sociedade próspera. Ensina os alunos e alunas, à partir de princípios, a usar energia e recursos com maior eficiência, distribuir riqueza equitativamente e tornar a qualidade de vida o foco do pensamento futuro. Terra Una é uma instituição parceira credenciada pelo Gaia Education no Brasil, que realiza programas certificados no RIO, SP e MG, além de estar envolvida com o programa online em português. Suas vivências introduzem rituais e conhecimentos que trazem ressignificação à nossa visão de mundo. Ao longo, disponibiliza ferramentas de ensino para a comunicação não violenta, novas economias, espiritualidade, integração com o feminino e o masculino, e entre outros temas chaves transdisciplinares, sendo ao mesmo tempo completos e interdependentes. Aqui Entrenós, nossa queridíssima sócia e grande entusiasta do engajamento cívico em prol de mudanças sociais, Barbara Panseri é formada e certificada pelo Gaia Education realizado em São Paulo, já a nossa geniosa sócia-fundadora Daniele Apone, entusiasta em metodologias participativas, além de certificada pelo curso do Rio, é também uma facilitadora oficial.

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ISP no Brasil ainda é baixo

ISP no Brasil ainda é baixo

Investimento Social Privado, é uma ressignificação da filantropia. Formalmente, o ISP é definido como: uso voluntário, planejado e monitorado de recursos privados em projetos sociais, ambientais, científicos e culturais de interesse público. No Brasil, o tema começa a ser discutido logo após a redemocratização, ainda sob o guarda-chuva da filantropia, com a constituição do Primeiro Grupo de Trabalho e Estudo sobre filantropia no Brasil na Câmara de Comércio Americana em 1989. Esse grupo de trabalho deu origem poucos anos depois, em 1995, ao GIFE, Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, organização pioneira na América do Sul na disseminação de um novo modelo de filantropia, o investimento social privado. Na sequência, em 1998, um grupo de empresários e executivos da iniciativa privada se reúnem e criam o Instituto Ethos, um pólo de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seu compromisso com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável. Atualmente, o GIFE e o Instituto Ethos são os dois principais players sobre o tema no Brasil e reúnem, respectivamente, 177 e 478 associados, entre institutos, fundações e empresas. Para que o ISP cause impactos positivos, socioambientais, é preciso que haja Responsabilidade Social Empresarial (RSC), ou seja, além de ter uma relação ética e transparente com as respectivas conexões, a empresa investidora precisa adotar uma visão equitativa das diferentes partes, como acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente, e incorpora-las ao planejamento e estratégia de suas atividades. Vamos aos dados…O Censo GIFE 2016 indicou que as instituições privadas que atuam filantropicamente – em especial empresas e organizações da sociedade civil ligadas a empresas, famílias e independentes/comunitárias – reduziram o seu investimento social nos últimos anos, totalizando 2 bilhões e 900 milhões de reais em 2016, 19% a menos que a última edição do Censo, de 2014. Os dados também indicaram que, com base nos 116 respondentes, 53% são institutos e fundações empresariais, 19% institutos e fundações familiares, 15% empresas e 14% institutos e fundações independentes, sendo que 44% apoiam programas que atingem todo o país, tento a maior parte do apoio direcionada para o Sudeste e a menor para o Norte. É interessante saber que apenas 24% das pessoas que compõem o conselho são mulheres. Entre as Fundações americanas 41% são mulheres. Em relação as áreas de atuação dos respondentes, em ordem decrescente dos temas mais relevantes, 84% foram para educação, 51% cultura e artes, 47% meio ambiente e 37% saúde, poucos tiveram como foco mulheres ou meninas e grupos étnicos/raciais. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável começaram a receber atenção. Mais da metade, ou melhor, 51% dos investidores sociais disseram estar alinhando projetos e programas atuais aos ODS. Segundo o Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC), lançado em 2018, houve uma queda de 13% no total de investimentos, em relação ao ano anterior, sendo 6% na área da educação. Mesmo com queda, educação continua como prioridade dos investimentos sociais, empresas e institutos/fundações empresariais investiram R$ 901 milhões em projetos sociais educacionais. Os investimentos em cultura são privados, tendo pouco incentivo fiscal (como por meio da Lei Rouanet). Os dados compilados em 2018 mostram que empresas e institutos associados investiram cerca de R$ 400 milhões em cultura. Neste montante, comunidades carentes, com maioria de estudantes da rede pública, receberam mais atividades culturais, principalmente as que relacionam arte e educação. Estamos falando de um investimento total, com base no grupo de associados BISC, de R$2,4 bilhões. O que queremos dizer sobre: ISP no Brasil ainda é baixo?Os valores investidos, por mais que sejam relevantes, ainda não conseguem suprir as necessidades de larga escala, para uma educação de qualidade. Existem, no Brasil, cerca de 38 milhões de analfabetos funcionais, significando que três em cada dez jovens e adultos de 15 a 64 anos são incapazes de compreender textos e contas matemáticas simples. O acesso a cultura reflete a desigualdade no país, quase um terço da população dependem de acesso gratuito para eventos culturais, milhões de pessoas que inclusive vivem nas cidades com maior oferta de atividades culturais, nunca tiveram a oportunidade de ir a um teatro, a um museu ou a um show de música. Precisamos entender que a doação traz a verdadeira abundancia, filantropia é necessária para o envolvimento social, para a redução das desigualdades, é fundamental investir em comunidades carentes.

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“Você já se perguntou quando descobriu que era feminista?”

“Você já se perguntou quando descobriu que era feminista?”

Escrito por: Barbara Panseri Você já se perguntou quando se descobriu feminista? Eu decidi me questionar sobre isso esses dias e, após alguma reflexão, compartilho e organizo aqui alguns pensamentos. Não sei ao certo quando me descobri feminista, mas acho que este ano de 2019 é um marco importante para mim, e explico por quê, olhando para três processos pelos quais venho passando: 1) tentar adquirir o hábito da leitura; 2) descobrir quais são meus valores e o que é inegociável para mim no mundo; e 3) participar de espaços políticos com mulheres que querem estar ou já estão inseridas na política institucional. Começo contando, com transparência e uma pitada de vergonha, como se deu a minha relação com os livros nos últimos anos. Sempre fui uma pessoa que, apesar de ter o enorme privilégio de passar por uma boa educação (escola privada, universidade pública na graduação e mestrado acadêmico com bolsa), não tinha o hábito de ler. Na época do pré-vestibular, li tudo o que era necessário. Na faculdade, a mesma coisa. Mas nunca fui além do necessário. Quando amigos próximos me davam algum livro de presente, ele acabava ficando encostado por bons anos. Me sentia mal com isso, me sentia menos capaz, ou distante das referências que tinham colegas com a mesma educação que tive. No fim de 2018, decidi que não dava mais: comprei uma série de livros que eu precisava ler, seja porque eu realmente queria, seja por pressão externa – não sei bem o que foi mais forte. Dois dos livros que comprei eram bem pequenos e li numa sentada só. Foram dois da Chimamanda Adichie, famosa escritora nigeriana: “Para Educar Crianças Feministas – Um Manifesto” e “Sejamos Todos Feministas”. Uau, que potência esses dois livros, que potência de autora. Eu a conhecia desde 2014, quando meus colegas de graduação a escolheram como patrona do nosso curso na colação de grau, mas era só até aí que eu a conhecia. Sabia os nomes de todas as obras, mas não as tinha lido. Depois desses dois primeiros, outros vieram com mais facilidade, como “Americanah”, que amei ler, e “Empoderamento”, da Joice Berth. Estou lendo também “Feminismo para os 99%: Um manifesto”, e gostando muito. Estou contando tudo isso porque nos últimos anos não tive a oportunidade, ou talvez não tenha ido atrás de espaços, de debater feminismo e conhecer as autoras que são referência. Lembro de ter ouvido a Djamila Ribeiro falar em eventos em 2016 e 2017, e de ter ficado fortemente impactada, mas isso também não me levou a ler um livro dela. Lembro também de ter tido longas discussões com amigas próximas, questionando se determinada atitude era ou não machista. Lembro de, por volta de 2015, dizer a uma colega hiper feminista que o feminismo não era para mim, que eu apoiava, mas que não precisava militar, que outras mulheres já estavam fazendo muito bem esse papel. Falo isso, novamente, sendo transparente e com grande dose de vergonha por não ter entendido nada do feminismo lá atrás. Recentemente me inscrevi num curso online sobre feminismo, com a Mariana Janeiro, que foi candidata a deputada federal em 2018. Ela organizou uma bibliografia e debates muito bacanas, que estão me ajudando muito a repensar algumas questões. Algo mudou dentro de mim com essas leituras. E conto isso aqui para reforçar a importância da formação e da leitura para nossos aprendizados e para essa mudança de consciência. Por mais que eu defendesse o feminismo, não me considerava antes feminista sem ter lido algumas autoras, sabe? Não que eu tenha lido tudo, longe disso, ainda faltam muitas outras. Já tinha ouvido falar de Simone de Beauvoir, mas só recentemente descobri quem era ela de fato, e ainda nem li seus livros… Mas, junto com esse processo de recuperar um gosto pela leitura, vieram outros dois. Em janeiro comecei a fazer um processo terapêutico para que eu pudesse me conhecer melhor. Um dos pontos que discutimos nesses meses foi sobre quais são meus valores. Forte, né? Cheguei a três valores: empatia, compromisso e integridade. Não vou entrar na discussão sobre cada um deles, mas falo especialmente sobre o primeiro. O termo empatia vem de EMPATHEIA, formado por EN, “em”, e PATHOS, “emoção, sentimento”. Para mim, a empatia tem pelo menos duas dimensões, a cognitiva e a afetiva, e eu gosto de pensar que é a capacidade emocional ou psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse naquela situação. Se isso é um valor para mim e, como valor, é inegociável, eu realmente tenho que defender e lutar pelo feminismo, entendendo o feminismo como um movimento que defende direitos equânimes entre os gêneros, e uma vivência por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões patriarcais. Como eu poderia ter empatia por uma mulher que sofre com um relacionamento abusivo sem entender todos os padrões, sentimentos e justificativas que estão ali por trás? Como eu poderia ter empatia por mim mesma sem entender que também sofro opressão, em maior ou menor grau, claro, que mulheres com trajetórias distintas da minha? Por fim, o terceiro e último processo pelo qual venho passando diz respeito a lugares onde conheci mulheres que estão lutando por mais participação feminina na política. No início de 2019 fui selecionada para fazer parte da Iniciativa Brasilianas. Já ouviu falar? É uma iniciativa que começou em 2018, com mulheres jovens que se preocupam com a participação de mulheres na política propondo-se a atuar na formação de lideranças femininas e na articulação em redes de apoio no estado de São Paulo. Essa mulherada tem por objetivo promover a igualdade de gênero na política, transformando a realidade em que as mulheres estão representadas, impulsionando candidatas que devem ocupar cargos nos executivos e legislativos brasileiros, ou dar apoio a outras mulheres que queiram se candidatar. Foram 10 semanas de aula, com diversas mulheres incríveis. Vi de perto participantes do curso que entraram dizendo que não tinham a intenção de se candidatar saírem de lá muito

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Thadeu e Daniele, sócios da Entrenós, em um evento de facilitação promovido pela consultoria (foto: Maurício Araújo).

Ajudar grandes empresas a terem posicionamento socioambiental: um negócio lucrativo.

Escrito por: Letícia Diniz – 29 maio 2015 Thadeu e Daniele, sócios da Entrenós, em um evento de facilitação promovido pela consultoria (foto: Maurício Araújo). Falar em responsabilidade social já deixou de ser exceção para as marcas e empresas. Hoje, toda grande corporação está vinculada a algum projeto que promova o bem estar social e evite ou compense eventuais danos ao planeta. Mas será que esses projetos são realmente responsáveis? É para garantir que sejam que a Entrenós Facilitação, dos sócios Daniele Apone, 32, e Thadeu Melo, 37, foi criada. Ao fomentar o micro-empreendedorismo e promover o diálogo entre primeiro, segundo e terceiro setores, os dois estão realizando um sonho triplo: ter sua própria empresa, contribuir para a uma sociedade mais justa e faturar com isso. Tudo começou há quase 15 anos na USP. Daniele ela era aluna do curso de Relações Públicas e Thadeu, do de Geografia. Entre cervejadas e viagens, os dois rapidamente tornaram-se grandes amigos, e nem os oito anos que Thadeu passou fora de São Paulo conseguiram afastar a dupla. Em 2004, a paulistana da zona leste foi aprovada no programa de estágio da Natura, e lá conheceu e se apaixonou pelo conceito de sustentabilidade. “A Natura foi uma escola para mim, é a segunda empresa mais sustentável do mundo”, conta Dani. Anos depois, quando ela já estava fora da empresa de cosméticos, os antigos amigos se reuniram profissionalmente pela primeira vez, para ajudar a Giral Viveiro de Projetos na definição da estratégia de investimento social da Natura na Amazônia. O território é bem conhecido por Thadeu, que já trabalhou com áreas protegidas no Fundo Brasileiro para a Biodiversidade e na campanha internacional do Greenpeace para a região. “Trabalhando no terceiro setor, a gente via que a primeira batalha da sustentabilidade estava sendo vencida”, diz Thadeu, e opina sobre o papel das empresas nisso: “Tudo que os movimentos sociais e ambientais sempre pediram começou a ser internalizado pelas grandes empresas, apesar de ainda termos muita adaptação pela frente” Faltava quem ajudasse as empresas a transformar anseios sociais em ideias que pudessem ser colocadas em prática. Com isso em mente, Daniele e Thadeu abraçaram o desafio de posicionar a Natura no contexto socioambiental amazônico. Como? Compartilhando valores com a sociedade local e consolidando um ecoparque industrial na região. “Foi ficando claro que poderíamos ajudar as corporações a planejar e gerir projetos sociais. Isso não é o core business dessas empresas, então fomos nos especializando em prestar este serviço”, conta Daniele. Essa especialização seria o prenúncio do surgimento da Entrenós. QUANDO A EMPRESA NASCE ANTES DA IDEIA DE TER UM NEGÓCIO Fundada em dezembro de 2011, a Entrenós vem se inserindo no contexto da profissionalização dos projetos socioambientais. “As empresas estão entendendo que é importante se posicionar sobre todos os temas relevantes para elas e seus consumidores, assumindo responsabilidades e identificando seus gargalos, o que facilita o diálogo com a sociedade e o governo e a definição das melhores iniciativas”, afirma Thadeu. Natural de Laranjal Paulista, ele formou-se em Jornalismo pela PUC-SP e passou 2014 dedicado a compreender os desafios e oportunidades do setor do agronegócio, algo fundamental para o sucesso de iniciativas ligadas à área ambiental no Brasil. Equipe da Entrenós na inauguração do parklet, do cliente Via Varejo: Adriana Barbosa e Mariana Lemos (da Via Varejo), Daniele e Victoria Lima (da Entrenós) e Elisa Ferreira e Alline Cipriano (designer e produtora da Goma). Daniele é pós-graduada em Economia e Gestão para Sustentabilidade. Ela diz que, em geral, as companhias optam por atribuir a gestão dos projetos de responsabilidade social para as áreas de Recursos Humanos ou Marketing e isso, muitas vezes, traz bons resultados para a empresa, mas não necessariamente para a sociedade: “Às vezes, as empresas investem muito mais no marketing para divulgar um projeto socioambiental do que no projeto em si. Isso não é legítimo” A necessidade de divulgar as ações, é claro, é legítima. E a expertise da Entrenós está em garantir que os projetos sejam, além de bons projetos em si, também bons negócios para as empresas. Não é fácil, e aqui há o desafio permanente de promover um diálogo aberto com os mais diversos atores sociais envolvidos. Atualmente, a receita da Entrenós vem de clientes (empresas privadas e organizações) que investem no planejamento e gestão de projetos socioambientais. Um projeto pode custar de 5 000 reais (por exemplo, pelo desenvolvimento de conteúdo para uma palestra específica) até 90 000 reais (valor da criação e implantação de uma estratégia de investimento social). Tudo depende do tempo de execução, dos profissionais envolvidos e da logística. Um traço comum aos projetos da consultoria é o diálogo permanente entre empresas e sociedade — algo que, na prática, signfica muitos encontros, dinâmicas e reuniões. Entre os grandes clientes, está também a Rede Globo. Esse diálogo é marca de um projeto que a Entrenós vem desenvolvendo no Complexo do Alemão, favela do Rio de Janeiro. A pedido da Fundação Via Varejo (que integra Casas Bahia e Ponto Frio, e acaba de abrir a terceira loja da marca Casas Bahia em uma favela), a Entrenós vem construindo junto com a comunidade as maneiras como se dará o investimento social da empresa por ali. Os moradores querem, e podem, participar.“Fazendo as perguntas certas e com algumas técnicas de planejamento, toda pessoa consegue identificar soluções para os seus problemas. As pessoas amam produzir em grupo”, afirma Daniele. Chancelado por quem será impactado, o investimento torna-se mais legítimo. UMA METODOLOGIA FOCADA EM DIÁLOGO Para viabilizar o compartilhamento de valor das corporações, a Entrenós mapeia pequenos empreendedores e contrata esses especialistas para confeccionar, em parceria, os projetos encomendados pelo cliente. Sem essa ponte, as grandes empresas não teriam como chegar ao pequeno empreendedor social — gente que tem impacto, tem experiência, mas ainda não tem o renome de uma ONG, por exemplo. Com essa metodologia, a Entrenós areja o setor, fomentando novas e ricas relações de troca e a circulação de um capital que normalmente fica restrito a empreendedores já consagrados.

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Externalidades Positivas

Externalidades Positivas

Escrito por: Vítor Leal Pinheiro Já falei sobre externalidades antes por aqui. Neste post, explico o que significa o termo, mas tocando no assunto do ponto de vista negativo. Agora, gostaria de explicar o proverbial outro lado da moeda: a externalidade positiva.Esse conceito é até bem simples, o que não significa que seja fácil de entender. Eu mesmo demorei algum tempo para realmente compreendê-lo. Colocando de uma forma objetiva, é quando o benefício de uma ação excede seu custo. Ah, mas não é tão simples como uma negociação. A bem da verdade, a externalidade positiva é algo extremamente difícil de se calcular, porque os valores envolvidos são muito subjetivos. Vou tentar exemplificar. Quanto custa um aluno na escola para os cofres públicos? Depende da série, mas considerando esta reportagem da Gazeta Mercantil, em 2004, um aluno no ensino fundamental tinha um custo médio de US$ 967,00 por ano. Sim, só isso. É claro que, multiplicando por todos os alunos do ensino fundamental, é uma grana razoável. Mas continuemos: quanto custa para a sociedade um adulto iletrado, incapaz de realizar trabalhos mais complexos ou de ler as instruções mais simples? Quanto custa um adolescente que não estudou, não vê opções de futuro e, na definição de risco social, pode ter um filho que não será capaz de sustentar, pode se tornar um bandido ou simplesmente viver na pobreza para o resto da vida? Esse cálculo ainda é possível, somando as probabilidades desse rapaz ir para a prisão, os custos que ele gerará, ou a riqueza que deixará de produzir para o país. Na Austrália, por exemplo, fizeram os cálculos de quanto investir em uma estrutura cicloviária trazia em economia nos gastos com a sáude (ou falta de) da população. O número é assombroso: mais de 200 milhões de dólares australianos. Mas responda outra pergunta: Quanto vale uma vida desperdiçada? Quanto vale a independência financeira de uma pessoa? Quanto vale a felicidade? Viram como é subjetivo? Se você está doente e toma um remédio, fica bom. Quanto custou a cura? O preço do remédio mais as consultas no médico. Mais o que você ganhou com isso? A possibilidade de viver melhor. Quanto vale o bem-estar proporcionado por um jantar com os amigos? Ou o custo de ver quem você ama sorrir quando você tira uma flor detrás da orelha dela? Ah, ok, agora tá ficando subjetivo demais. O que eu quero dizer é que não dá pra medir essas externalidades positivas – simplesmente porque nem tudo tem preço ou pode ser valorado. Só quando entendi a externalidade positiva pude entender o que o urbanista Ciro Pirondi quer dizer neste vídeo quando fala que as cidades não tem custo. Oras, quanto vale (não quanto custa) a população sentir-se orgulhosa do lugar em que vive? Quanto a população ganha quando uma ponte que liga um trânsito ao outro é construída e quanto ela ganha quando uma praça degradada torna-se espaço de vivência da comunidade? Alguns meses atrás eu fui dar uma volta pela cidade com alguns amigos e nos deparamos, lá no Pateo do Colégio, com um piano deixado por um artista. “Toque-me, sou teu”, dizia a inscrição. Começaram a tocar e os moradores de rua, que tomavam sopa nas imediações, começaram a pedir bis, bater palmas. Logo, um deles chegou com um violão e faz uma Jam Session, seguida por música própria. Eu me lembro de achar aquilo tudo muito incrível e pensar: caramba, preciso sair mais de casa. Pois é, alguém pode me dizer quanto custou e quanto valeu aquela noite? Assista, abaixo, ao vídeo desse dia, gravado e editado pelo Marcelo Siqueira – Bike Reporter da Eldorado. E quanto vale um abraço? Link para matéria original: https://nossoquintal.org/2009/01/07/externalidades-positivas/

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Externalidades

Exter… que? Externalidades

Escrito por: Vítor Leal Pinheiro O tema, externalidade, é fundamental para a compreensão dos problemas que a humanidade encara hoje e para que cada um compreenda sua parte num futuro menos obscuro. Externalidade é o impacto, positivo ou negativo, em qualquer parte não envolvida diretamente em uma negociação. Para entender melhor, darei um exemplo. Você compra um saleiro que custa 1 real. Ele veio da China e você até se pergunta como ele pode ser tão barato, já que um saleiro produzido aqui custa, no mínimo, 5 contos. O que você não sabe é que a fábrica que produziu esse produto utiliza trabalho escravo/infantil, polui um rio com metais pesados e o ar com poluentes. Você e o comerciante não estão sendo de forma alguma lesados no processo. Ele pagou 50 centavos, vendeu por 1 real. Você tem o que queria e pagou pouco por isso e o comerciante realizou uma venda e teve um lucrinho. Mas, sem perceber, você causou impacto lá na China. Ou seja, por fazer o melhor negócio possível, você fez com que sua decisão de compra causasse um problema em outra pessoa. É a lógica perversa do capitalismo. Aí você me diz: mas isso é na China, não no Brasil. E eu peço para você olhar os jornais e perceberá que, vira-e-mexe, temos alguma notícia de trabalho análogo ao escravo em uma fazenda aqui do Brasil. O queridinho Etanol (álcool combustível) utiliza o trabalho de milhares de bóias-frias. E é um trabalho pesadíssimo, insalúbre e que paga muito pouco. Externalidade é uma questão econômica, porque as partes interessadas no negócio não estão pagando os custos reais do produto/serviço. Você não paga o custo real do saleiro, então a sociedade como um todo paga a diferença. Pode até não ser a sociedade brasileira, mas tenha certeza de que alguém estará pagando. Um outro exemplo de externalidade é o automóvel. Opa, lá vem porrada. O automóvel é um bem privado que utiliza o espaço público (rua) e polui o ambiente de todos. Então se eu estou em um ônibus, o automóvel causa trânsito e atrapalha o meu percurso, ele causa uma externalidade. Mais: como os automóveis são responsáveis por 50% de toda a poluição atmosférica em Sâo Paulo, um motorista polui o ar que eu respiro. Essa poluição é uma externalidade a que eu e você estamos expostos graças ao fato de algumas pessoas terem carros. E por alguns, eu digo muito menos do que se imagina. Em Sampa, só 30% das viagens são feitas de carro. O resto se divide em transporte público, caminhadas, bicicletas e motocicletas. E as pessoas ainda dizem que é o ônibus o vilão do trânsito. O automóvel não paga toda a sua conta, e a sociedade subsidia seu uso. Mas essa discussão fica pra outra pílula vermelha. Mas o que eu posso fazer em relação a isso? O que estamos fazendo hoje não é só exportar um monte de poluição e devastação para países cada vez mais longe. Estamos também fazendo isso para as sociedades futuras. Você compra um saleiro e, embutida nessa compra, está a capacidade dos seus filhos e netos de sobreviver. Doeu? Pois é. Dói. Não é pra quem tem o coração fraco, mas a realidade nua e crua é essa. Por isso, a pergunta mais importante que você pode fazer ao comprar qualquer coisa não é quanto custa. É de onde vem. Como foi produzido. Então pergunte. Suas perguntas são importantes pois mostram ao comerciante que você não é um qualquer e que é melhor ele começar a oferecer produtos melhores, ou ele corre o perigo de perder você para a concorrência. Ou até fechar. A sociedade brasileira é engraçada, pois todas as pesquisas demonstram que ela entende os problemas ambientais, só não leva isso em conta na hora de comprar. Portanto, já sabe. No mínimo, olhe o rótulo dos produtos. E evite xing-ling. Link da matéria original: https://nossoquintal.org/2008/09/01/exter-que-externalidades/

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