Investimento Social Privado, é uma ressignificação da filantropia. Formalmente, o ISP é definido como: uso voluntário, planejado e monitorado de recursos privados em projetos sociais, ambientais, científicos e culturais de interesse público.
No Brasil, o tema começa a ser discutido logo após a redemocratização, ainda sob o guarda-chuva da filantropia, com a constituição do Primeiro Grupo de Trabalho e Estudo sobre filantropia no Brasil na Câmara de Comércio Americana em 1989. Esse grupo de trabalho deu origem poucos anos depois, em 1995, ao GIFE, Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, organização pioneira na América do Sul na disseminação de um novo modelo de filantropia, o investimento social privado. Na sequência, em 1998, um grupo de empresários e executivos da iniciativa privada se reúnem e criam o Instituto Ethos, um pólo de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seu compromisso com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável. Atualmente, o GIFE e o Instituto Ethos são os dois principais players sobre o tema no Brasil e reúnem, respectivamente, 177 e 478 associados, entre institutos, fundações e empresas.
Para que o ISP cause impactos positivos, socioambientais, é preciso que haja Responsabilidade Social Empresarial (RSC), ou seja, além de ter uma relação ética e transparente com as respectivas conexões, a empresa investidora precisa adotar uma visão equitativa das diferentes partes, como acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente, e incorpora-las ao planejamento e estratégia de suas atividades.
Vamos aos dados…
O Censo GIFE 2016 indicou que as instituições privadas que atuam filantropicamente – em especial empresas e organizações da sociedade civil ligadas a empresas, famílias e independentes/comunitárias – reduziram o seu investimento social nos últimos anos, totalizando 2 bilhões e 900 milhões de reais em 2016, 19% a menos que a última edição do Censo, de 2014. Os dados também indicaram que, com base nos 116 respondentes, 53% são institutos e fundações empresariais, 19% institutos e fundações familiares, 15% empresas e 14% institutos e fundações independentes, sendo que 44% apoiam programas que atingem todo o país, tento a maior parte do apoio direcionada para o Sudeste e a menor para o Norte.
É interessante saber que apenas 24% das pessoas que compõem o conselho são mulheres. Entre as Fundações americanas 41% são mulheres.
Em relação as áreas de atuação dos respondentes, em ordem decrescente dos temas mais relevantes, 84% foram para educação, 51% cultura e artes, 47% meio ambiente e 37% saúde, poucos tiveram como foco mulheres ou meninas e grupos étnicos/raciais.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável começaram a receber atenção. Mais da metade, ou melhor, 51% dos investidores sociais disseram estar alinhando projetos e programas atuais aos ODS.
Segundo o Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC), lançado em 2018, houve uma queda de 13% no total de investimentos, em relação ao ano anterior, sendo 6% na área da educação. Mesmo com queda, educação continua como prioridade dos investimentos sociais, empresas e institutos/fundações empresariais investiram R$ 901 milhões em projetos sociais educacionais.
Os investimentos em cultura são privados, tendo pouco incentivo fiscal (como por meio da Lei Rouanet). Os dados compilados em 2018 mostram que empresas e institutos associados investiram cerca de R$ 400 milhões em cultura. Neste montante, comunidades carentes, com maioria de estudantes da rede pública, receberam mais atividades culturais, principalmente as que relacionam arte e educação.
Estamos falando de um investimento total, com base no grupo de associados BISC, de R$2,4 bilhões.
O que queremos dizer sobre: ISP no Brasil ainda é baixo?
Os valores investidos, por mais que sejam relevantes, ainda não conseguem suprir as necessidades de larga escala, para uma educação de qualidade. Existem, no Brasil, cerca de 38 milhões de analfabetos funcionais, significando que três em cada dez jovens e adultos de 15 a 64 anos são incapazes de compreender textos e contas matemáticas simples.
O acesso a cultura reflete a desigualdade no país, quase um terço da população dependem de acesso gratuito para eventos culturais, milhões de pessoas que inclusive vivem nas cidades com maior oferta de atividades culturais, nunca tiveram a oportunidade de ir a um teatro, a um museu ou a um show de música.
Precisamos entender que a doação traz a verdadeira abundancia, filantropia é necessária para o envolvimento social, para a redução das desigualdades, é fundamental investir em comunidades carentes.